VOTUPORANGA-SP / JUNHO DE 2025
RESPONSÁVEL: Sérgio Gibim Ortega
CONTATO: poetagibim@hotmail.com

sábado, 26 de abril de 2025

GRAVADORES DE TERRA

                             Sérgio Gibim Ortéga 

Somos poeira de outros,
ossos antigos que a terra guardou,
somos raízes, somos frutos,
matéria que um dia amou.

A energia corre em nós,
como fio que nunca se apaga,
um sopro antigo em nova voz,
uma memória que o tempo apaga.

Somos gravadores de carne e alma,
novos cérebros, novas canções,
nascemos em branco, em quieta calma,
pra escrever de novo emoções.

Quando esquecemos, como no Alzheimer,
é como se a fita apagasse devagar,
um morto vivo, sem mais saber,
o que veio buscar, o que veio amar.

Mas a vida não some, só se refaz,
a matéria dança, a energia é paz.
E cada novo ser que ao mundo chega,
é a antiga terra que outra vez navega.

                          [26-4-2025]

quinta-feira, 24 de abril de 2025

O BESOURO

                                   Sérgio Gibim Ortéga 

O besouro, coitado, não vive a sonhar,
Rola bosta o dia inteiro, sem nunca parar.
Com esforço danado, suor de inseto,
Faz do esterco sua vida, seu lar, seu afeto.

Empurra a esfera, tão firme e valente,
Com força que espanta qualquer outro ente.
Mas me pergunto, olhando a cena:
Pra onde ele leva essa bola pequena?

É seu tesouro, seu pão de cada dia,
Seu lar, sua arte, sua melodia.
Que vida danada, de luta e poeira,
Profissão suja, mas verdadeira.

Enquanto nós rimos, sem muito pensar,
Ele ensina em silêncio o que é trabalhar.
Na bosta do mundo, o bichinho resiste...
Talvez seja ele o timista mais triste.
                                              [23-4-2025]


quarta-feira, 23 de abril de 2025

A HERANÇA DA VOVÓ

                      Sérgio Gibim Ortéga 

Sabe... no começo,
eu só queria o dinheiro.
Eu nem fingia que era diferente.
Achei que bastava sorrir,
levar um chá, escutar umas histórias
antigas e esperar...
Esperar que ela fosse embora
e deixasse algo pra mim.

Mas o tempo com a vovó...
ele me desmontou.
No silêncio dela,
eu ouvi mais do que em
qualquer aula...
No olhar cansado,
vi um mundo inteiro
que nunca tinha prestado atenção.
E em cada suspiro,
entendi que ela não precisava
de um neto interesseiro.
Ela só queria alguém ali, de verdade.

Ela me ensinou a lavar arroz
do jeito certo.
A escolher manga pelo cheiro.
A dizer “obrigado” sem parecer
que é obrigação.
E me ensinou o mais difícil:
cuidar de alguém
sem esperar nada em troca.

Hoje, se eu pudesse escolher,
eu preferia mais uma tarde
com ela ao invés de qualquer herança.
Porque, no fim das contas,
o que a gente leva…
não é o que os outros
deixam pra gente.
É o que a gente se torna
por causa deles.

E por ela… eu me tornei
alguém que ama de verdade
                               [23-04-2025]






segunda-feira, 21 de abril de 2025

NESTA MANHÃ

                 Sérgio Gibim Ortéga 

Nesta manhã,
feriado de Tiradentes,
meu filho me trouxe a notícia:
o papa Francisco partiu.

Prefiro chamá-lo
apenas de “papa”,
sem títulos, sem pompas.

Foi o mais simples,
o mais carismático,
o mais humano
que já conheci.

Agora vêm os ritos,
as homenagens, os cortejos...
Lembro dos papas anteriores,
das transmissões sem fim na TV.

Mas Francisco —
ah, Francisco será lembrado
muito além das cerimônias.
Será eternamente reconhecido
por sua bondade serena,
por sua empatia viva,
por ser, antes de tudo,
um pastor de almas.

                    [21-04-2025]





SILÊNCIO DE FRANCISCO HOJE

                         Sérgio Gibim Ortéga 

Hoje,
o mundo não despertou
com o mesmo som.
Faltou a voz mansa
que falava forte sem gritar.

Francisco partiu,
e levou com ele
a simplicidade 
que ensinava grandeza,
a coragem que
abraçava com doçura,
o amor que não pedia nome,
só presença.

Fez da fé
uma ponte sobre abismos,
fez do gesto
uma prece viva.
Mesmo quem não o seguia
sentia a luz que vinha dele.
um homem feito de escuta,
de passos lentos e firmes
que tocavam o chão
com humildade de quem sabe:
ninguém caminha só.

Hoje, não importa
em que crê seu coração,
fica o chamado:
cultivar a esperança,
cuidar dos outros,
e viver com menos peso
e mais verdade.
Francisco descansou.
Mas deixou sementes demais
para que a paz
continue germinando.

                     [21-04-2025)






quinta-feira, 17 de abril de 2025

SUPER MULFFATO


Sérgio Gibim Ortéga (Poeta e escritor)


Comprei um arroz , arroz Karvi de 500g aponês em embalagem de vidro, algo que sempre tive vontade de experimentar. Como o produto estava próximo do vencimento, ele foi colocado em promoção: de R$ 31, 89 por aproximadamente R$ 11,00. No momento da compra, é difícil conferir tudo no caixa, então fui pra casa e só depois percebi que, na nota fiscal, o valor cobrado foi o cheio: R$ 31,89. Acabei perdendo, infelizmente, 20, 89 reais.


Resolvi voltar ao supermercado, mas já fica gastando gasolina — o que, na prática, já anula o valor que perdi. No fim das contas, você não tem nenhum ganho, ainda mais pra quem economiza até o último centavo.


Voltei lá e, sinceramente, foi uma situação constrangedora. A troca foi feita sem dificuldade, mas os produtos vencidos e os não vencidos estavam todos misturados, sem nenhuma sinalização clara. Apenas uma etiqueta branca, como uma rodela de papel, marcava algo — mas não os vencimentos de fato, pois alguns produtos claramente estavam bem especificados numa prateleira separada. O que de fato me deu uma grande confiança de acreditar e não sair conferindo.


A funcionária trocou o vidro e me devolveu os 20,89 reais, mas precisei assinar papéis, informar meus dados, telefone, CPF, assinar, etc. Acho um absurdo um supermercado tão grande agir assim. Acho uma super vergonha. Sou um cliente frequente e, ainda assim, passei por essa humilhação só pra receber de volta um valor que foi cobrado a mais por um erro deles.


Lamentavelmente, o valor não foi devolvido em dinheiro, como se eu fosse o culpado. Recebi um vale para gastar em outros produtos — com validade limitada. E se eu não fosse da região? E se eu realmente precisasse do dinheiro, já que na hora da compra comprei apenas o que cabia no meu orçamento? Não... mas tu pega a merda de um vale como se fosse pra humilhar. Absolutamente sem se quiser ou não.


Vejo isso como uma forma forçada de fidelização, o que é totalmente injusto e merece ser exposto. Somos tratados com indiferença.


Supermercado Muffato de Votuporanga — onde já comprei muito, mas atitudes assim são decepcionantes. Não pretendo deixar de ser cliente, mas é revoltante.


Compartilho essa experiência para que outras pessoas sejam respeitadas e para que o supermercado reveja sua organização.


No fim das contas, acabei comprando o que era meu por devolvido, e gastando até mais — mesmo sendo um bom cliente. O bom velhinho que aceita como um cachorrinho. 


Fica aqui a minha indignação. Os tempos de má já fui, agora só escrever sem brigas como um bom cachorrinho.

MINHA MÃE, MEU LUGAR

                    Sérgio Gibim Ortéga                      (Para o Dia das Mães) Tiraram a casa, o canto, o quintal, o cheiro do café no l...