Sérgio Gibim Ortéga
Lá na casinha onde morei,
e nas casas que foram de meu pai,
o tempo passou…
e com ele veio a saudade imensa.
Tiraram de nós o direito de voltar,
venderam tudo, sem nos olhar,
e os restos de bens doados foram,
sem honra, sem partilha, sem perdão.
Minha mãe ainda vive,
mas a memória do meu pai
foi varrida como poeira ao vento.
Ninguém nos ouviu.
Ninguém nos perguntou.
Nada foi consultado entre herdeiros,
nada foi respeitado entre irmãos.
E o que ficou?
A dor. A ausência. A saudade.
Mas Deus — ah, Deus —
em Sua sabedoria há de julgar.
Nesta terra ainda haverá de se pagar
pela dor que nos fizeram suportar.
Pagará aquele que por ambição
deixou o amor para trás,
carregando só o que tem preço,
e deixando o que tem valor:
a memória, o afeto,
e os últimos dias de minha mãezinha.
Pagará por cada lágrima contida,
por cada lembrança roubada,
por cada gesto de egoísmo,
pelo amor que foi negado.
Só Deus sabe da injustiça silenciosa,
que não é praga, mas justiça.
Roguei, Senhor, por amor —
mas confesso: não perdoo.
E como tantos que me fizeram sofrer,
também sofreram,
sem que eu precisasse cobrar.
A vida cobrou por mim.
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