Sérgio Gibim Ortéga
O tempo escreve cicatrizes,
ainda mais profundas
quando se perde um pai.
Lembro-me, então,
que a vida dele me falta
tanto no começo quanto no fim.
Nas memórias de criança,
sinto o carrinho azul
e vejo o cavalo Lambari —
ah, quanta saudade!
Íamos juntos à cidade,
vendendo linguiças
que ele mesmo fazia,
frangos vivos, sonhos simples.
Meu pai tinha sorte:
vendia tudo,
homem digno,
mestre do café,
braços da roça,
vida no suor.
Eu, menino,
guiava a carroça
rumo ao cafezal,
e o vento guardava nossa alegria.
Ah, que saudade de qualquer tempo,
de qualquer estação da vida,
na esperança de um dia
a linha do tempo me devolver
aquele instante,
aquele pai,
aquele nós.
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