Sérgio Gibim Ortega
Ontem eu estava recolhendo as roupas no varal para minha
esposa, quando ouvi na rua um som de alto-falante, que assim dizia: “Doces por
um real, doce de banana, doce de leite, doce de sírio, etc., um real a
bandeja.”
Logo percebi que um real é muito barato, se fosse uma
bandeja bem completa. É lógico que logo saquei que o vendedor também tem que
ganhar e resolvi comprar duas bandejas mesmo fazendo regime.
A resposta foi confirmada. Nas bandejas dava pra notar que
eram doces industrializados mesmo, e cada pedaço, cortados ao meio, seis doces
completava uma bandeja pequena e quadrada. E por surpresa, notei que ainda era
um jovem que vendia os doces, e com um belo carro. Na traseira do veículo
estava lotada dessas bandejas. Tudo bonitinho, limpinho e arrumadinho.
Ao vir pra dentro de casa, não me contive e pus-me a pensar.
Buscar talvez uma explicação com a esposa do que eu não conseguia entender.
Talvez haja tantos motivos pra buscar uma resposta que eu ainda não entendi até
agora; “Por que um jovem com um belo carro, vendendo essas bandejas de doces a
um real...?" Compensa a gasolina...? E os gastos para gravar o som do alto-falante
do carro...? Por que um jovem que hoje na maioria estuda, ou não tem coragem de
fazer um serviço assim...? Por que...? Por que...? Eu não entendi ainda até
agora.
Não é preconceito ser um vendedor. Eu mesmo já fui vendedor
de quadros, livros, carimbos, limões, e também doces caseiros. Eu me sentia
humilhado, e ainda pior, batia de portas em portas. Mas sempre sabendo que não
estava roubando, e sim trabalhando apenas.
Eu, que vendi salgados de bandejas por mais de anos...
Sofria e tinha sonhos de vencer... De ter algum negócio para nós mesmos, quando
um dia nosso sonho acabou. Porque graças a Deus posteriormente tive meu emprego
registrado e era tudo o que pretendia.
Por que...? Por que um jovem com um carro belo a vender
elegantemente bandejas de doces?
Não devo revelar o nome do carro, mesmo porque hoje, nem sei
nome de carros, com tantos modelos diferentes.
Eu que não quis ser tão curioso a perguntar nada... E quando
lhe dei cinco reais, por pegar duas bandejas, notei que ele não foi insistente
como outros que sempre diz a mesma coisa: “Complete o troco com mais estas!”
Notei que me devolveu certinho o troco, agradeceu e seguiu seu trajeto.
Mas quanto ao doce de não ser compensativo ao preço, tomei
conta de que ele também ganharia muito pouco e assim pensando, quantos
quarteirões ele ainda andaria pra vender algum doce. Sim! Algum doce, se eu
mesmo também já fui um vendedor de doces, e mais ainda humilhado por ter que
bater de portas em portas. E foi o que me deixou tão encabulado e me trouxe a
razão de escrever. E perguntar talvez ao público. O que trás a razão de um
jovem com um belo carro a vender doces pelas ruas da cidade?
Antes de buscar a resposta, encontro muitas... Seria um
jovem fazendo uma experiência ou uma promessa...? Seria um jovem ganhando pra
pagar o seu estudo...? Seria um jovem em busca de quê...? As aparências se
enganam. Por muitas vezes soubemos que mesmo uma pessoa que pareça ter bom
nível, ou ter um belo carro, não seja tão bem de vida ou precise muito de
ganhar dinheiro, uma vez que já também sofri muito até me adaptar a uma
empresa, que reconhecesse o meu talento.
Mas um real é muito pouco pra rodar com um carro. Mesmo que
ouçam a falar ainda aquela frase “De grão em grão, a galinha enche o papo.”
Pois, haja grãos... Haja gasolina pra ganhar...
E hoje quando compro de pessoas que batem à minha porta,
compro com emoção, por já ter sido tão sofrido também a cumprir um trabalho
completamente decente... Compro pra ajudar... Compro com orgulho quando posso.
E mesmo assim, um dia desses ainda um jovem à pé, me fez
comprar um queijo por sua insistência, uma vez que o seu queijo não estava
adequado a higiene... Eu não gosto de vendedores assim...
Mas este jovem, de uma forma diferente, me fez sentir muito
mais orgulhoso ainda por cumprir com suas obrigações... Um jovem que está
trabalhando e não se drogando... Um jovem que não está roubando... Que bonito!
Que orgulho!
Mesmo que eu nunca entenda estas coisas da vida, não
interessa.
Há; se todos os jovens fossem assim trabalhadores, mesmo sendo
ricos ou pobres.
Isto aconteceu na minha cidade de Votuporanga.
(3-12-2011)
(3-12-2011)
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