Carlos Lúcio
Gontijo
Nada é mais
sério e difícil que a impressão e lançamento de livro no Brasil, principalmente
quando se trata de literatura independente, que se materializa sem selo de
editora nem a chancela de grandes patrocinadores. Caminhamos sob essa condição
desde 1977, mas sem fazer da dificuldade uma pedra intransponível no caminho ou
fonte de tristeza tão depressiva a ponto de tirar ou extrair o brilho do
exercício do dom da arte da palavra que Deus nos concedeu e nós cuidamos de
aprimorar ao longo dos anos, visualizando no lançamento de cada livro uma lição
de vida alicerçada na prática do desprendimento.
Como temos
em conta que lançamento de livro é uma festa e que obra literária está acima do
próprio autor, projetamos a duras penas “apresentações” de nosso trabalho de
escriba menor com música, bebida e algum tira-gosto, na base de algo parecido
com o tradicional “parabéns pra você”, pois temos a palavra como uma festiva
manifestação do espírito que nos habita. Os que nos acompanham, principalmente
nos lançamentos em Belo Horizonte, nossa querida capital de todos os mineiros,
sabem dessa nossa preocupação, quando o que normalmente se vê é o autor numa
livraria qualquer, sentado solitário num banquinho à beira de uma mesa, ao
feitio de cigarro esquecido à borda de um cinzeiro.
O trabalho duro
do autor literário independente não lhe dá tempo para fazer “beicinho” nem se
desesperar diante das muitas portas que se lhe mantêm fechadas, uma vez que seu
foco deve estar sempre aceso em busca de chamas luzidias e capazes de lhe
auxiliarem no cumprimento de sua missão, onde não há espaço nem para glamour nem
para curtir mais demoradamente os pequenos detalhes que lhe enluaram os passos,
como é o caso de gentil artigo de autoria do escritor e poeta J. Estanislau
Filho, inserido no site do Recanto das Letras, tão bem elaborado que levou uma
leitora do Rio de Janeiro a nos encomendar um exemplar do romance “Quando a vez
é do mar”, que é acompanhado de encarte com uma síntese de nossos livros
anteriores, elaborada por Ângela Maria Sales Dias, relações públicas da Escola
de Música de Nova Lima/MG.
São fatos assim que nos
movem e nos abastecem com o indispensável combustível do reconhecimento, para
que possamos seguir em frente com o nosso trabalho literário num país de tão
poucos e escassos leitores. Nesta semana ligamos para a escritora Therezinha
Casasanta, pessoa que admiramos pela simplicidade e pela clara visão do mundo em
que vivemos nos dias de hoje, predicados que certamente são responsáveis pela
grande sensibilidade com que ela orna seus belos livros infantis. Comentamos
sobre as crescentes dificuldades que cercam o fazer literário, uma vez que é
cada vez mais comum nos depararmos com jovens portadores de curso médio completo
e que jamais leram um livro na vida.
Encontraremos quem jogue a culpa no elevado preço dos livros ou no baixo
poder aquisitivo da população, mas é lógico que tal afirmação não está de acordo
com a realidade. O filho do homem mais rico do Brasil (Eike Batista), o poderoso
jovem Thor, de 22 anos, lembrou-nos a amiga Therezinha Casasanta, revelou em
entrevista à imprensa que nunca leu um livro. Enquanto isso, uma jovem de 15
anos, filha de nosso amigo pedreiro Maurício, residente em Contagem/MG, se nos
apresenta como leitora de pelo menos dois livros por mês, num gosto pela leitura
que a levou a ser uma das primeiras colocadas em prova de acesso ao concorrido
CEFET.
São
poucos, mas muito poucos mesmo, os autores tidos como consagrados que vendem
mais de 40 livros, durante sessão de autógrafos, em qualquer uma das capitais
brasileiras, ainda que sob o apoio de anúncio e reportagem na imprensa. Todavia
ninguém toca no assunto, uma vez que todos são importantes demais para admitir
tamanho quadro de penúria, que apenas serve para a permanente implantação de
inócuos e inconsistentes programas de incentivo à formação de gosto pela
leitura, quando nem mesmo os professores leem.
Enfim, quem está
na chuva é para se molhar. Nosso destino é seguir em frente com o nosso trabalho
literário de tantos anos e não temos tempo nem espaço para choramingar nem
lamentar o leite derramado, quebrando a magia da luz acima da razão que nos leva
a produzir literatura em ambiente cultural tão
adverso.
Carlos Lúcio
Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
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