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sexta-feira, 12 de março de 2010

UMA GRANDE VIAGEM

Roberto Lamparina


Sem ter muito que fazer e nem o que dizer, me postei na frente da tela do pc e correndo os olhos no repasse das manchetes e das notícias vindas dos jornais virtuais. Uma olhadinha no Jornal do Poeta, uma leitura rápida de mais um capítulo do seu livro inquietante e uma notícia me chamou à atenção – “O último adeus em forma de homenagem”.

Era uma reportagem sobre uma nova modalidade comercial, que envolvia a nossa última viagem, onde esta nova proposta propõe abrandar a dor da partida no delírio de um funeral temático que a amenizasse. Novamente solicitando a invocação do espírito hilariante do grande cronista Artur de Carvalho por empréstimo – MEU DEEEUS..., como conseguimos morrer, digo, viver todos estes anos sem o advento desta idéia magistral!?

O que falta para a maioria das pessoas subirem na vida são relampejos de genialidade como este. Como alguém pode ter conseguido sacar uma coisa assim tão óbvia, profunda e original. A idéia é simplesmente bri-lhan-te.

O velório temático certamente ajudará muito na dor da partida, pois ninguém conseguirá seguir triste e chorando a sua perda com um cenário que você sabe que estará satisfazendo o último desejo do homenageado. Ex: o cara partiu prematuramente num acidente automobilístico, mas como já tinha manifestado o seu último desejo fúnebre-temático, os familiares contrataram para o seu funeral um velório alegre. Ao invés de se ficar ouvindo aqueles comentários sussurrantes dos presentes, sobre o estado lamentável em que o corpo foi encontrado, faltando braço, cérebro esbodegado, tronco e membros triturados nas ferragens (coisas comuns de serem ouvidas em velórios de acidentados), todo mundo estará prestando atenção no cenário escolhido, que neste exemplo, poderia ser uma festa das arábias, com aquelas dançarinas de dança-do-ventre contratadas pela empresa funerária, remexendo as cadeiras em volta do caixão, envoltas naqueles lencinhos transparentes e sensuais. Loucura, loucura, loucura!!! Ninguém se esquecerá de um velório desses. Ao invés do tradicional cafezinho amargo (para que a empresa fúnebre possa economizar no açúcar) para romper a madrugada triste de oração e encomenda da alma, umas tragadas em alguns narguilés estrategicamente esparramados pelo local. Se o clima ainda estiver triste demais e ninguém se motivar no acompanhamento da coreografia das dançarinas, o responsável pela animação temática, estrategicamente deixa cair acidentalmente uma boa porção de maconha-da-lata dentro dos narguilés. Aí a exaltação será geral, provavelmente até o defunto se recomporá nos pedaços e cairá na coreografia entre os berros de rabibeeeee, rabibeeeee... Tudo devidamente acompanhado de muitos quibes, esfirras, kaftas, tabules, pães sírio, entre outras gostosuras temáticas.

Deve ser por isso que eu continuo pobre, trucker e tendo que trabalhar dezoito horas por dia para ganhar o pão. Onde já se viu eu nunca ter pensado uma coisa dessas. Provavelmente vou morrer dirigindo caminhões e sem direito a um funeral temático!

Gostaria de obter mais informações sobre esta maravilha, assim do tipo: se teria um plano temático mortuário incluso nos já tradicionais planos; se quem tem um plano comum poderia pagar a diferença à parte; se mesmo estando contratado o tema, poderia mudá-lo; se poderia fazer um plano familiar temático para toda família e, ter assim preciosos descontos ou concorrer à prêmios e brindes; se o auxílio-funeral poderia ser usado para amortizar o débito do funeral temático; se comprando um plano temático, ganha-se descontos no abadá do Carnavotu; se haveria censura de temas ou se poderia escolher qualquer tema, até mesmo o tema morrendo de rir com o Serra e o PIG, ou morrendo de pena do Diogo Mainardi, do Reinaldo Azevedo e do Coturno Noturno; entre outras dúvidas práticas assim do gênero.

Eu acho que nem economizando um, dos dois marmitex que devoro rigorosamente todos os dias para manter este corpinho - pelo resto da minha vida -, eu teria condições de privilegiar os presentes no meu desterro com um funeral temático. Mas desde já, suplico aos meus queridos amigos e leitores assíduos deste blog, que sejam catitos comigo e me façam este pequeno mimo. Para lhes dar algumas dicas do tema possível, vou logo adiantando que sempre fui vidrado em caminhões potentes, motos e automóveis velozes, tudo devidamente acompanhado de lindas mulheres. Nunca consegui materializar nenhum destes desejos, ficando eles restritos na hipotética possibilidade da adivinhação daqueles seis números mágicos, mas acho que eu mereço ter este meu desejo imortalizado num funeral temático bancado pelos meus queridos cinco ou seis leitores fiéis.

Fora isso, também sou cinéfilo e o tema poderia também se bandear para este lado da ficção cinematográfica.

Dentre os clássicos que me fazem ter um orgasmo involuntário, “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, é insuperável. Sugiro então que os senhores poderiam contratar para este humilde cervo, este tema, pois será relativamente barato e ao alcance das vossas possibilidades. É possível encontrar anões em qualquer lugar e são sempre diminuídos na escala do trabalho pelo baixo tamanho que possuem, sendo assim, uma pequena mão-de-obra e barata. O mercado de trabalho para anões é bem restrito, só existindo uma única grande possibilidade de emprego, o circo. Agora os anões também movimentarão o mercado de trabalho nos postos gerados pelos funerais temáticos.

Tenho vontade de morrer agora só de pensar na possibilidade de eu estar deitado naquele templo de oração e júbilo, contemplando em lágrimas, as pessoas que me amam (?) dar gargalhadas sonoras a cada vez que aqueles anõezinhos contratados pelo agente temático, rodearem a minha urna mortuária naquela coreografia do filme, cantando umpa lumpa dumpa dee doh…, e empunhando bandeijas repletas das deliciosas e douradas barras de chocolates Wonka para serem distribuídas para a seleta lista de convidados especiais e autoridades de todos os níveis. Quem sabe até o próprio cabriteiro em pessoa possa descolar uma folga na sua agenda intensa de inaugurações de quadra de bocha e vir aqui tomar uma 51 com a caipirada da terra, saboreando o delicioso chocolate como tira-gosto.

Sinto muito em dizer para aquelas velhas senhoras rezadeiras, que sempre se fazem presentes nos velórios, mesmo não tendo nenhum parentesco e nem tendo sido convidadas, sequer conhecem a vítima do infortúnio, que no meu velório temático, as senhoras não terão lugar ao lado do meu caixão, muito menos passando a noite toda em meio aqueles pai nossos intermináveis e aqueles doze credos católicos que, mais parecem duzentos, pois tem sempre uma véia distraída que erra a letra e tem que recomeçar tudo novamente. Se as senhoras quiserem participar, até poderão, porém, ao invés do credo, do pai nosso e da Ave Maria interminável, sugiro que decorem a letra do lumpa dumpa para que possam acompanhar no refrão. Se não acertarem na letra, serão condenadas a ficar na fila do postinho esperando por sete horas para serem atendidas pelo Dr. JA e saírem portando uma receita de diclofenato de potássio e Profenid. Isso até o Pai Florêncio receita e dá certo, pois essas duas fórmulas e caldo de galinha, não fazem mal a ninguém!

Apenas uma ressalva, na qualidade de hétero assumido e odoricamente inviolável, gostaria de sugerir e deixar claro nas cláusulas do contrato de regulamentação do serviço de funeral temático, que o modelo de roteiro a ser seguido no meu funeral seja o da primeira versão da Fantástica Fábrica de Chocolate, aquela em que o excêntrico Willy Wonka foi interpretado pelo Gene Wilder, pois na segunda versão, interpretada pelo ator Johnny Depp, acho que ele deu pinta excessiva, além de parecer mais pedófilo do que excêntrico. Sendo assim, em se tratando de dar pinta, melhor deixar para o velório temático do nosso amigo Dr. Karlos, que presumo, será uma adaptação de outro clássico do cinema, “A Gaiola das Loucas”, a primeira versão, com Ugo Tognazzi e Michel Serrault, sendo o Dr. Karlos no papel de Renato Baldi e o Roberto Cosmorama no papel de Albin Mougeotte.

Levando-se em consideração que a propaganda é a alma do negócio, e aqui, fiz uma brilhante publicidade gratuita da brilhante idéia, bem que este brilhante empresário do ramo fúnebre local, poderia me empregar como vendedor, ou me presentear com um vale-funerário temático e assim, na onda do vale-night e de outros vales que nada valem, pelo menos morto, eu valeria alguma coisa, pois vivo, minha cotação está mais baixa do que as teorias neoliberais fracassadas na última quebradeira mundial.

Esta foi de morrer de rir, mas se eu conseguir matar alguém, que seja um cliente temático em potencial, assim já estarei ganhando comissões sobre as vendas. O pior de tudo é quando me perguntarem como estou ganhando a vida ultimamente – Vendedor de funerais temáticos. Vou acabar matando todo mundo de curiosidade!!!


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