por William Berigo Gibim Ortéga
Um cinema que não tem estrutura para acomodar seu número de clientes. Para comprar comida e pagar os ingressos vira um atraso. Não tem lugar para as pessoas esperarem o pedido, gerando uma aglomeração até a porta de entrada.
Bastava colocar uma plaquinha na parte mais alta com o número ou nome da pessoa, em vez de fazer o funcionário gritar. Não tem banheiro na área de atendimento. Até tem um, mas fica trancado na sala ao lado. Quem precisa urgentemente usar o banheiro precisa pagar o ingresso e subir até a sala para se aliviar.
Os assentos da sala são apertados, os braços ficam encostando. Tudo para caber mais assentos. A tela está cheia de riscos, dá para ver os defeitos durante o filme.
Quando finalmente peguei o meu pedido, que era a pipoca e o refrigerante, o funcionário foi super educado e rápido. Eu cheguei meia hora adiantado para não passar por imprevistos, mas a demora, devido à quantidade de pessoas além do limite do recinto, e o sufoco foi tão grande que o filme já tinha começado. Então, perdi as cenas iniciais.
Para ajudar, a experiência principal — que é o filme — foi mediana: personagens genéricos, mas interpretados por atores muito bons, que tiraram leite de pedra. Os dinossauros são bons, mas o roteiro é patético, tentando referenciar as cenas nostálgicas. É um bom filme de Sessão da Tarde, mas, mesmo com referências, não parece um Jurassic Park. Porém, é melhor que Dominion.
Jurassic Park não é só um filme sobre dinossauros, e quem acha isso está vendo apenas a superfície. O que faz esse filme ser tão incrível é justamente o que está por trás das criaturas gigantes: uma crítica escancarada à arrogância humana, ao culto à tecnologia e à ilusão de controle sobre a natureza.
Os dinossauros são um espetáculo à parte, com efeitos visuais revolucionários que continuam impecáveis até hoje. Mas eles não estão ali só para impressionar ou preencher buracos de roteiro. Eles são usados com respeito, com propósito. Cada aparição tem um motivo narrativo, cada criatura representa um ponto específico sobre a força da natureza e o fracasso humano em contê-la. Os dinossauros são tratados como personagens, não como enfeites. Eles têm presença, têm peso, têm significado.
O parque inteiro representa o que acontece quando o ser humano, movido por ego ou lucro, resolve brincar de Deus sem pensar nas consequências. Aquela frase do Dr. Ian Malcolm diz tudo: “Seus cientistas estavam tão preocupados em saber se podiam ou não fazer isso, que não pararam para pensar se deveriam.” A tecnologia avança, mas a ética fica para trás.
Cada personagem tem uma função maior. Hammond é o típico bilionário visionário que quer deixar um legado, mas ignora os riscos. Ele acredita que pode domesticar a natureza com cercas elétricas e segurança de última geração. Não pode. E é exatamente aí que nasce o caos.
No fim das contas, Jurassic Park é sobre a humanidade tentando controlar aquilo que, por essência, não se controla. É sobre limites, responsabilidade e respeito ao desconhecido.
Esse filme resiste ao tempo porque tem mais tecnologia? Não. É um filme que envelhece bem porque, infelizmente, a soberba humana continua intacta.
Jurassic Park não é só um filme de dinossauros. É um tapa na cara disfarçado de entretenimento. E é por isso que eu amo tanto esse filme.
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