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RESPONSÁVEL: Sérgio Gibim Ortega
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ORGULHO DE SER CAIPIRA


                                    Roberto Lamparina

          Por causa de uma afirmação que fiz numa postagem anterior dizendo que eu não queria falar mais sobre carnaval porque já havia dito tudo nos muitos anos que milito por aqui, um leitor me encurralou com a seguinte pergunta – Por que você acha que não precisa mais falar sobre carnaval???
          Então respondi pra este, que só tenho um filho, que ele foi criado desde pequeno afastado desse tipo de festejo vale-tudo e que por isso não desenvolveu gosto por esse tipo de festa, ao contrário da minha criação, pois eu freqüentei e até gostava muito da farra e da bebedeira. Meus sobrinhos também não são assim tão simpatizantes da festa, então me considerava vacinado contra os efeitos mais nocivos dela, julgando que minha família estaria blindada pelos efeitos diretos e me achando meio que acima, ou que eu já havia ultrapassado esse degrau social e intelectual que nos relega à nossa origem primata e nos conduz, pelo menos claramente nesses dias de folia, aos rincões mais atrasados desta origem.
          Meu interlocutor, que reside em Anápolis, me quebrou e aos meus pobres argumentos com uma única fala – Eu também me achava blindado dos males do carnaval, mas uma manhã de segunda pra terça de carnaval me mostrou o quanto estamos todos indefesos desses males, pois meu filho de 14 anos estava indo comprar pão numa padaria próxima de casa e foi atropelado em cima da calçada por um folião completamente embriagado que bateu em 6 carros parados, perdeu o controle do veículo e atropelou meu filho, causando nele múltiplas fraturas. Quase um ano de internação no Sarah Kubstichek em Brasília e uma deficiência física que o acompanhará para o resto da sua vida. Mas, nossa família ainda tem muito a agradecer por ele estar vivo. Sorte esta que não tiveram e não terão as tantas vítimas-passivas de uma alegria que mata e vitima pessoas todos os anos.
          Diante dá mágoa evidente e proveniente de alguém que já sentiu a dor na própria carne, decidi ainda me manter na minha postura blindada e alongar o assunto que visivelmente eu me encontrava em desvantagem – Mas disso, estamos todos reféns nos 365 dias do ano, não é exclusividade carnavalesca. Eu, mais do que ninguém, vivo esta trágica realidade no meu cotidiano profissional.
          Meu interlocutor novamente me quebrou com outra alegação que me deixou sem resposta – É fato... Mas, o pior de todos os efeitos nocivos que o carnaval carrega e que o torna uma arma carregada que apontamos contra nossas cabeças todos os anos por 5 ou 7 dias, dependendo do estado folião, não é algo visível e que podemos facilmente nos livrar da sua incômoda presença. É o selo implícito de psuedo-liberdade, onde naqueles dias de folia está tudo liberado e podemos tudo. Podemos beber e nos drogar até cair; podemos levar nossa resistência física ao cúmulo da exaustão em nome da alegria; podemos nos despir de alguns valores morais que nos foi passado pelos que nos criaram e nos educaram, tais como a liberação das nossas necessidades fisiológicas em vias públicas e em locais inadequados, inclusive e tranquilamente sob a manifestação de platéia entusiasta; podemos beijar (pegar) quantos e quantas dermos conta; podemos desrespeitar e até provocar embate contra nossos adversários naturais na luta pela demarcação do nosso espaço como macho dominante e fêmea que necessita e espera ser dominada, coisa absolutamente normal nessa nossa espécie superior.
         Na minha postura de ouvir tudo e depois compor uma opinião, meu interlocutor ainda me aprisionou com uma pergunta muito intrigante – Se você acha tudo isso normal e acredita realmente que pode ficar insensível aos males que a folia nos provoca a todos, direta ou indiretamente, me responda uma única pergunta. Você acha que o carnaval seria esta alegria e esta folia alucinante se não estivessem às drogas lícitas e ilícitas compondo e fazendo parte principal neste cenário???
          Eu consegui digerir tudo e chegar à única resposta possível para esta pergunta. Repasso agora a mesma pergunta para meus 2 ou 3 leitores.
          Seguindo a lógica de que jamais conseguiremos nos blindar da carga ruim do carnaval, o que podemos fazer é nos purificar apontando esses males e tentando exigir das autoridades competentes que estabeleçam um mínimo de ordem nessa zona.
          Um exemplo, assisti hoje pela manhã no Supermercado Santa Cruz (antigo Teco-Teco) quando um jovem, provavelmente um desses forasteiros que vieram aqui para nossa cidade exercer o sagrado direito de liberdade carnavalesca (liberando suas perversões mais ocultas, que muito provavelmente não liberaria na sua cidade de origem) com o cartão de crédito do papai, tentou entrar no supermercado trajando apenas uma minúscula sunga preta. A gerência o barrou e o fez esperar na porta, consolidando assim nossa posição de autênticos caipiras da terra.
          Ainda se fosse uma sunga de crochê azul e lilás como a que foi usada como arma pelo ex-terrorista Fernando Gabeira para “causar” e fazer história no verão carioca de 1980, estaria perdoado. Mas, uma sunga pretinha básica?!?!?!
          Esse folião desavisado deveria ter sido apresentado às masmorras das Brisas, ou no mínimo ter sido conduzido ao plantão policial para servir de exemplo aos demais incautos!!!
           Mas, o desinibido do Santa Cruz só ficou mesmo ali do lado de fora blasfemando contra uma sociedade que não reconheceu o valor das suas curvas, enquanto o resto da espécie foi as compras.
          Se este texto estivesse sendo escrito por intervenção espiritual do anjo pornográfico Nelson Rodrigues, como ele assim se definia, provavelmente seria intitulado de O DESINIBIDO DO SANTA CRUZ, mas como está sob a pouca luz de um pobre e caipira lamparina... FONTE- BLOG DO LAMPARINA


COMENTÁRIOS DO POETA GIBIM

Meu amigo Lamparina! Eu sei que muitos gostam de publicar seus textos usando as fontes. Eu Gosto. Tem muito que não gostam. Mas quanto a nós, os e meus estão livres pra você publicá-los também quando deseja. E se você não quiser, me passa um e-mail que retiro. Aqui a gente arrisca. E o que gosto é quando você também faz matérias, como a do Carnaval. Nós precisamos falar. Você cita bem os assuntos.

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