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quarta-feira, 22 de junho de 2011

A CESTA BÁSICA DO SENHOR

Carlos Lúcio Gontijo
Imaginamos ser oportuno um ato de reflexão neste feriado de Corpus Christi, quando o importante é, mais que nunca, apenas curtir o final de semana prolongado, que costuma ser fator de encurtamento de vidas, devido ao grande número de acidentes que ocorre em nossas rodovias, tanto carentes de boa conservação em sua imensa maioria quanto de motoristas compromissados e dispostos a respeitar a divina graça de ter sido contemplado com a dádiva da vida.

Jesus Cristo não deveria ser lembrado nem invocado como se fosse um amuleto à disposição dos homens em seus momentos de dor. O filho de Deus veio à Terra para nos dar um recado de vida eterna, deixando-nos cônscios de que aqui estamos não para pagar divida e que, se devedores éramos, Ele estava morrendo por nós, não com o objetivo de apenas livrar-nos de nossos pecados, mas sobretudo com a finalidade de que passássemos a tirar da vida terrena todas as potencialidades colocadas à nossa disposição, sempre respeitando e praticando o amor ao próximo, através do gesto fraterno e da responsabilidade social. Jesus, dessa forma, convocou-nos para a festa da vida, apontando-nos o sentido exato de nossa própria grandeza de espírito materializado na carne e ungido pela luz da eternidade, pois Deus não costuma apagar a chama da existência, simplesmente a transforma.

Dizem os mais velhos que Deus não se intromete em jogos de azar, e cremos nós que não adianta também chamar pelo Criador para dar solução à pobreza material, às desigualdades e injustiças sociais, pois não foi o Senhor dos Céus e da Terra o modelador desses males. Pobreza, miséria, preconceito e racismo são invenções da raça humana e cabe a ela mesma dar cabo a tais expressões máximas de seu egoísmo e intolerância, tomando consciência de que não há sementes nem homens ruins, o que existe de fato são os maus cultivadores.

Jesus Cristo veio-nos para que descobríssemos a linguagem espiritual e pudéssemos dirigir-nos ao Pai em pensamento, porém, ao contrário, foi transformado no eterno intermediário, recrucificado constantemente não pelos nossos pecados de cada dia (acertos e tropeços são ocorrências comuns no aprendizado da vida), mas por nossa falta de fé, nossa preguiça diante do trabalho duro que é a edificação de um mundo sensível no interior de nós mesmos, que, como a nascente dos rios, seja capaz de jorrar, correr, navegar e somar encontros até virar um grande mar social, onde todos tenham direito às benesses de uma vida digna.

Acreditamos que Deus seja brasileiro, mas que assentou residência em alguma nação mais desenvolvida, na qual a semente humana, que o Grande Espírito semeou no Planeta Terra, atingiu padrões elevados de respeito e dignidade: onde há justiça social, o Criador se faz presente. Em país como o nosso, no qual a indiferença foi gerando diferenças sociais cada vez maiores e abrindo tumores no tecido comunitário, podemos constatar explicitamente que nossas tradições religiosas e cristãs se transformaram em uma vergonhosa hipocrisia contrária às leis de Deus.

Todo ser humano traz em si mesmo uma igreja, assim os templos de todas as religiões são uma espécie de símbolo da falta de fé de cada um de nós, que elegemos pastores e sacerdotes para conduzir o vazio de nossa crença e conversar com Deus em nosso nome. Poucos são aqueles que descobrem que podem tanger seus próprios sinos, fazer seu próprio sermão, consagrar com a energia de sua fé a própria hóstia e se autobatizar nas águas do “Jordão” que corre profusamente no coração de todos nós. Contudo, enquanto não nos descobrirmos homens-igreja, os pastores e sacerdotes continuarão fazendo as honras da casa.

Indubitavelmente, na cesta básica do Senhor (vivo e ressuscitado), para abastecimento de nosso espírito, não encontraremos a letargia de orações cujo terço não traga (como “contas”) os calos da mão, representando a soma do trabalho na busca e no esforço em prol da prática efetiva do indispensável amor ao próximo e de uma vida mais digna e menos desigual para todos os homens – os frutos que Ele mais deseja colher, maduros e saudáveis, para que assim possa manter acesa a energização da chama luzidia do Universo.

Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br

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