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domingo, 24 de maio de 2009

Respeito

Paulo Pereira da Costa

Domingo passado, no jogo do Manchester United contra o Manchester City, o atacante Cristiano Ronaldo, ao ser substituído, deu o exemplo perfeito e acabado da falta de respeito. Saiu fazendo gestos acintosos de inconformismo e repeliu com violência quando vieram lhe entregar a blusa do abrigo para vestir. O técnico Sir Alex Ferguson, no comando do time há mais de 16 anos, não deu a mínima. Com autoridade, equilíbrio e respeito próprio suficientes, não se deixou afetar pelo comportamento de bebezão mimado do jogador. Não preciso dizer qual dos dois teve de suportar pesadas críticas. Respeito é consideração, deferência, apreço, algo que todo ser vivo quer. Independentemente da sua condição social, econômica, profissional, etc., toda pessoa merece respeito, mas o fato é que a legitimidade para exigi-lo aumenta na medida em que se o tem. Como, em regra, uma coisa puxa outra, antes de exigir, é preciso dar. Vocês lembram-se do juiz que ingressou com ação judicial para obrigar seus vizinhos de condomínio a tratá-lo por "excelência"? Talvez ele ainda não tenha entendido duas coisas: que ele não está acima dos outros mortais e que o verdadeiro respeito não se impõe nem se compra, conquista-se. Em outras palavras: o respeito se conquista respeitando. A falta de respeito anda em alta e manifesta-se nas mais variadas formas. Impontualidade é uma delas. No Brasil parece que é antiquado chegar na hora certa a um evento. Prometer algo sem a firme intenção de cumprir (oh, nobres políticos!) é falta de respeito. Esquecer compromissos revela falta de consideração, e neste quesito eu devo confessar que tenho deixado a desejar. Respostas atravessadas, que se assemelham a patadas, vocês sabem. Tem empregado que não respeita patrão, aluno que não respeita professor, chefe que humilha subordinado, abusa da hierarquia. E no trânsito? Valha-me Deus! No campo das idéias, para muitos é difícil respeitar a opinião contrária. É preciso agir guiado por princípios, de modo a não perder o respeito por si mesmo, para não ter vergonha de enfrentar a própria consciência. O respeito obtido é tão mais forte e verdadeiro quando é natural, ou seja, quando constitui o reflexo do respeito oferecido; deve assentar-se em virtudes, em qualidades íntimas e não em coisas materiais; só existe de fato quando subsiste com o despojamento dos bens materiais; para atrair respeito é preciso ter conteúdo, trazer dentro de si muito mais do que apenas um ego para ser massageado. O respeito ao próximo é sentimento que se deve manifestar espontaneamente, sem pressão, sem preocupação com retribuição. É diferente da reverência pegajosa, da subserviência, da bajulação, do puxassaquismo, comportamentos próprios de quem busca obter algo por um caminho mais fácil, sem antes ter o necessário mérito. O direito deve ser dado a quem o tem e não a quem convém. Infelizmente, vivemos num país em que os governantes de plantão, por razões de conveniência, fomentam o parasitismo. Num manual sobre o estudo da caligrafia, li que a letra malfeita, ilegível, revela insegurança, falta de convicção da pessoa sobre aquilo que ela escreveu. Vieram-me à mente aquelas receitas médicas de letras indecifráveis. Para mim, mais do que falta de segurança, a letra ilegível evidencia falta de respeito de quem escreve em relação a quem vai ler. Por razões que a lógica não explica, às vezes as pessoas demonstram mais respeito a estranhos do que àqueles que lhe são próximos. Não raro, a convivência, que deveria aproximar ainda mais, aumentar o apreço, a consideração, acaba fazendo efeito contrário, subvertendo a lei natural do "tanto maior quanto mais próximo". Vejam os conflitos entre cônjuges, entre pais e filhos, entre irmãos. Como já dito, é preciso ter respeito por si mesmo e, obviamente, fazer por merecê-lo. Faltamos com o próprio respeito quando fazemos coisas prejudiciais à nossa saúde, quando violamos princípios éticos e morais que nos cabe seguir. É imperioso saber distinguir quando quem está faltando com o respeito somos nós e não os outros. Em suma, há um ponto de equilíbrio entre o respeito que queremos ter e o que devemos dar. Procurar sempre tal ponto, a meu ver, é a maior demonstração de respeito.

Paulo Pereira da Costa, promotor de Justiça e autor do livro "Pensando na Vida" paulopereiracosta@uol.com.br
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