Sérgio Gibim Ortéga
Um dia, a gente cansa.
Cansa dos amigos... até mesmo da família.
Se você voltar um pouco no tempo, vai se lembrar dos amigos que frequentavam sua casa. Gente que você fazia questão de visitar, de servir com carinho. Quantos almoços, jantares, churrascos você preparou, com amor? Quantas vezes sua mesa esteve cheia — e seu coração também?
Hoje, ninguém mais te olha nos olhos. Ou finge que não te viu passar. Os mesmos que comiam e bebiam à vontade, hoje mal respondem uma mensagem. E quando convidam, ainda pedem que você leve o que comer e o que beber. A cortesia virou cobrança.
Enquanto isso, vejo gente jovem formando suas famílias, distribuindo fartura — e penso: "Mais alguns anos e estarão como nós... exaustos, decepcionados."
O tempo revela. Revela que às vezes é da própria família que virá o golpe final. Basta um dos pais partir, e o que era afeto vira disputa. Porque os tempos são outros. Porque, no fundo, a única certeza que se tem nessa vida... são pai e mãe. O resto, meu amigo, é conveniência.
Mas se você não mora mais com eles, talvez não possa cuidar. A maioria prefere cruzar os braços. Ou você cuida sozinho, ou deixa a vida levar — e se prepare: um dia, te roubam. E o que se perde nem sempre é dinheiro. Às vezes, é dignidade.
Perdi o lugar que mais amava com minha mãe ainda viva. Ela já não tinha forças pra gritar:
— “Não mexam nas minhas coisinhas...”
Mas ninguém escutava. Porque, quando morre o pai, surgem sócios. Como numa empresa. E como dizem: "Sociedade não dá certo nem pra cachorro."
E então você sente saudade da casa antiga. Daquela árvore de fruta plantada pelo seu pai. Da varanda. Do silêncio. De tudo que te tiraram. E é aí que você entende: certas pessoas, você nunca mais quer ver nem de longe.
Gente que encheu a barriga às suas custas e depois te passou por cima feito trator. Falsidade tem nome, rosto e sobrenome. E muitos desses vivem hoje como rei e rainha — soberanos da hipocrisia.
Nesse ponto, metade da sua vida já se foi. E ainda tem quem diga:
— “Você não vai levar nada desta vida.”
Mas não estou falando de herança. Estou falando de respeito. De memória. De presença.
Eu cuidei da casa do meu pai até o último dia da minha mãe. Doente, limpei, pintei, conservei. Fiz o possível. Mas no dia em que jogaram tudo fora e alugaram a casa dela para benefício próprio — sem meu consentimento —, perdi o rumo.
Porque a dor da saudade é maior do que qualquer bem. E pior que isso, é ver sua liberdade ser arrancada. Não poder mais ver sua mãe, seus entes queridos, porque o dinheiro falou mais alto.
Aí você pensa em justiça. E sabe que tem provas. E sabe que foi roubo. E sabe que pode. Mas também sabe que é uma luta sem fim. E então entrega nas mãos de Deus. Porque a justiça d’Ele tarda... mas nunca falha.
E quanto aos amigos? A maioria sumiu. Vivemos uma era de ganância. Você olha pro lado e não pode contar com ninguém. E quanto mais rico, mais perigoso.
Amigos que viveram tantos momentos ao seu lado... agora fingem que nem te conhecem. Talvez por vaidade. Talvez por inveja. Ou, simplesmente, porque deixaram de te considerar importante.
E assim, um dia... você cansa.